Notícia SINASEFE IFSul

27 de março 2023

Relatórios apontam impacto ‘explosivo’ da liberação da mineração por Bolsonaro

Relatórios apontam impacto ‘explosivo’ da liberação da mineração por Bolsonaro Dois relatórios diferentes apresentados nesta segunda-feira (27) apontam os estragos e as consequências da liberação da mineração e da ausência de políticas de proteção do meio ambiente pelo governo de Jair Bolsonaro.Divulgado pelo Observatório do Clima, o relatório “Nunca mais outra vez”, último volume da série da organização sobre a “necropolítica ambiental” praticada por Bolsonaro de 2019 a 2022, desta que o período registrou aumento de 212% nas invasões e de 125% de atividades do garimpo ilegal em terras indígenas (TIs), ao mesmo tempo que nenhuma nova área foi demarcada.Além disso, o documento aponta que, no governo Bolsonaro, ocorreu o maior aumento de desmatamento na Amazônia em um período de quatro anos, a maior alta nas emissões de gases estufa em 19 anos no país e uma redução de quase 40% das multas por desmatamento na região amazônica.“Está claro que a destruição ambiental promovida nos últimos quatro anos foi planejada e cumprida de forma consciente, assim como as ações genocidas contra os povos indígenas. Chegou a hora de investigar e punir os responsáveis, para que o Brasil não se esqueça, e para que nunca se repita”, afirma Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.O documento aponta ainda para o crescimento significativo da violência no campo e como o Brasil reduziu a ambição climática estipulada no Acordo de Paris. Em 2021, o número de assassinatos no campo bateu recorde: foram 36 pessoas, um aumento de 71% em relação a 2020.
Observatório do Clima sugere ainda uma série de medidas que o governo deveria tomar para reverter o desmonte da política ambiental observado nos últimos anos, entre elas barrar o chamado “Pacote da Destruição”, que são um conjunto de projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional, e anular a licença prévia da BR-319, que fez o desmatamento aumentar em 122% na região.
‘Anos dourados’ para a mineraçãoPor sua vez, o relatório Dinamite pura: como a política mineral do governo Bolsonaro armou uma bomba climática e anti-indígena, lançado pelo Observatório da Mineração e o monitor socioambiental Sinal de Fumaça também nesta segunda, examina como ocorreu o encadeamento de medidas que favoreceram o setor.Na avaliação das entidades, pode-se resumir as decisões do período como “a combinação explosiva entre o desprezo pelos direitos territoriais e humanos e uma sofisticada estratégia de lobby corporativo”. O documento destaca que a implementação de ações de interesse do empresariado do setor e investidores foi possível graças à adesão de parlamentares.Ou seja, os tratos que visavam a aumentar o lucro do segmento, inclusive beneficiando transnacionais, abrangeram toda a Esplanada dos Ministérios, chegando ao Congresso Nacional. Uma das lembranças quanto a esse aspecto foi o lançamento da Frente Parlamentar Mista da Mineração, de 236 deputados e senadores, que aconteceu em junho de 2019 e deu mais atenção, segundo o relatório, à mineração de pequenos e médios empreendedores.Durante os quatro anos de Bolsonaro no Palácio do Planalto, escrevem as entidades, tanto a mineração industrial quanto o garimpo ilegal vivem “anos dourados, na teoria, na prática e com centenas de bilhões de reais investidos nos mercados interno e global. Ao longo de 84 páginas, os autores do relatório recuperam, mês a mês, fatos como o rompimento da barragem de Brumadinho (MG) e a meta do governo federal de permitir que empresas estrangeiras pudessem explorar as reservas de urânio brasileiras, de cerca de 609 mil toneladas.O ano de 2019 não havia chegado ao fim e o Ministério de Minas e Energia propunha que a mineração no interior de florestas nacionais (flonas) fosse liberada. As flonas são, por definição, uma categoria de área que deveria contar com a proteção especial do Estado, uma unidade de conservação.O relatório ainda coloca em evidência pontos como a falta de fiscais em determinados locais, de maneira que não se encontram barreiras à prática de ilegalidades na busca por metais. Um caso citado é o de desfalques nos estados do Pará e do Amapá. “Só em Itaituba [município paraense], às margens do Rio Tapajós, mais de 18 mil pedidos de permissão de lavra garimpeira aguardam análise da agência”, acrescentam os autores do estudo, a fim de dar a dimensão da vulnerabilidade da região, já que ao longo do rio vivem indígenas kayapó e munduruku, dois dos três povos mais atingidos pela mineração, juntamente com os yanomami.
Foto: José Cruz/Agência Brasil
Fonte: Sul21