Notícia SINASEFE IFSul

23 de setembro 2021

Registro de óbitos da Prevent Senior devem passar por sindicância, diz infectologista

Registro de óbitos da Prevent Senior devem passar por sindicância, diz infectologista Durante depoimento à CPI da Covid nesta quarta-feira (22), o diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, admitiu que a operadora adotou procedimento para alterar o código de diagnóstico do prontuário dos pacientes com covid-19, deixando de mencionar a doença após 14 dias de internação normal, ou 21 na de UTI. Após esse prazo, os pacientes não mais transmitiriam a doença, o que supostamente justificaria a alteração.Além disso, dossiê confeccionado por médicos que trabalham ou trabalhavam na Prevent Senior afirma que pacientes e familiares nem sequer foram devidamente informados quando submetidos ao chamado “tratamento precoce” em um suposto estudo, com a utilização de medicamentos ineficazes contra a doença.Na CPI, Batista Junior afirmou que a Prevent Senior registrou 55 mil internações de pacientes com covid-19, com 8 mil óbitos confirmados pela doença. Contudo, diante da prática de adulteração dos prontuários, o médico infectologista Marcos Caseiro defende que todos os atestados de óbito emitidos por médicos da operadora sejam revisados. Diante das últimas revelações, ele suspeita que esses números estejam subestimados.“Deve haver muitos casos semelhantes de adulteração. Isso mostra que essas estatísticas de óbito são subestimadas. O número é certamente muito maior. Se faziam isso como rotina, tem que ser aberta sindicância para reavaliar os óbitos da Prevent Senior”, disse Caseiro em entrevista a Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta quinta-feira (23).
Ele classificou esse tipo de procedimento como uma “barbaridade”. Como exemplo, Caseiro citou que registrou o óbito de um paciente com covid-19 que passou 60 dias internado. Para registrar a causa da morte como covid-19, o médico teve, inclusive, que anexar ao atestado o resultado do teste RT-PCR.
Prevent Senior e ‘cobaias humanas’Sobre a utilização não consentida do chamado “tratamento precoce”, o infectologista afirmou que os hospitais da Prevent Senior viraram “laboratórios de experimento”, utilizando seres humanos como “cobaias”. Ele destacou que a utilização off-label (fora das indicações prescritas em bula) de qualquer medicamento requer a assinatura, por parte do paciente, do Termo de Conhecimento Livre e Esclarecido (TCLE). Além disso, testes clínicos devem contar com autorização prévia da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Batista Junior, no entanto, também confirmou que esse tipo de autorização não foi solicitada.
Caso TuskegeeCaseiro comparou a situação ao episódio que ficou conhecido como “caso Tuskegee“. O experimento, realizado pelo Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos, utilizado como exemplo de má conduta científica, ocorreu entre 1932 e 1972, na cidade de Macon, no Alabama. Envolveu 600 homens negros, sendo 399 com sífilis e 201 sem a doença, contudo, foi negado aos pacientes o diagnóstico verdadeiro da doença. O intuito era observar o livre desenvolvimento da doença.Os pacientes eram informados como sendo portadores de “sangue ruim”, a mesma denominação utilizada pelos eugenistas norte-americanos, no final da década de 1920, para justificar a esterilização de pessoas com deficiência. A partir da década de 1950, a penicilina passou ser utilizada no combate à sífilis, contudo, esse tratamento foi negado aos pacientes do centro de saúde Tuskegee. A diferença, segundo Caseiro é que, no caso da Prevent Senior, não foi negado o diagnóstico, mas omitido o tratamento, realizado com medicamentos sabidamente ineficazes.
OmissãoO médico infectologista cobrou ainda que sejam apuradas as responsabilidades dos órgãos de controle, como o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Segundo Caseiro, essas instituições foram omissas no caso da Prevent Senior e na fiscalização da aplicação do dito “tratamento precoce”. O próprio CFM foi inclusive citado por Bolsonaro, em discurso na Assembleia Geral da ONU, que disse apoiar a “autonomia do médico na busca do tratamento precoce”, seguindo “recomendações” da entidade médica.Caseiro também defendeu que o senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS) seja indiciado pela CPI da Covid. O parlamentar é um dos principais divulgadores do tratamento ineficaz. O médico infectologista classificou a postura de Heinze como “gravíssima”, e comparou-o a Bolsonaro, o mais destacado defensor da hidroxicloroquina.
Fonte: Rede Brasil Atual / Imagem: Pedro França/Agência Senado