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15 de março 2024

Ex-comandantes comprovam digital de Bolsonaro em tentativa de golpe

Ex-comandantes comprovam digital de Bolsonaro em tentativa de golpe A íntegra do depoimento do general Marco Antônio Freire Gomes à Polícia Federal coloca diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no centro da trama golpista que vinha sendo tentada no final de 2022 para mantê-lo no poder, apesar de sua derrota nas eleições daquele ano. Em um relato de 7 horas à corporação, o militar, que comandava o Exército na época, afirmou que Bolsonaro apresentou, em reuniões no Palácio do Alvorada, três diferentes “institutos jurídicos” que permitiriam um golpe de Estado contra a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).As informações são da colunista do jornal O Globo Bela Megale, que teve acesso ao conteúdo do depoimento. Nele, Freire Gomes detalha que as minutas tratavam da decretação de uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO), de Estado de Defesa ou de Estado de Sítio. O general narrou que em um dos encontros, no dia 7 de dezembro de 2022, o ex-assessor especial da Presidência Filipe Martins leu trechos de uma das minutas golpistas que usava expressões de Bolsonaro. Entre elas, “jogar dentro das quatros linhas”, como ele costumava repetir.O convite para a reunião, segundo Freire Gomes, partiu do também general Paulo Sérgio Nogueira, na época ministro da Defesa após a saída de Walter Braga Netto, que disputou como vice de Bolsonaro. No encontro, realizado na residência presidencial, o então chefe do executivo ainda teria informado que “o documento estava em estudo e depois reportaria a evolução aos comandantes”.
Bolsonaro e nova versão do golpeFreire Gomes afirmou que o almirante Almir Garnier Santos foi o único na ocasião a aderir abertamente às intenções golpistas de Bolsonaro. E que se recorda de Garnier ter se colocado à disposição do então presidente. Ele, contudo, e o brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, da Aeronáutica, teriam ressaltado na reunião que faltava suporte jurídico para a manobra bolsonarista. O general também argumentou à PF que alertou Bolsonaro que suas intenções poderiam resultar em responsabilização penal. Ele advertia que “do ponto de vista militar não haveria possibilidade de reverter o resultado das eleições”.No entanto, as tratativas seguiram. E a participação direta de Bolsonaro na trama golpista foi reforçada em uma segunda reunião realizada em 14 de dezembro com a presença dos três comandantes das Forças Armadas. Freire Gomes narra que o ex-presidente apresentou uma versão ainda mais ampla da minuta golpista, com a criação de uma Comissão de Regularidade Eleitoral, também prevista no documento encontrado na casa do ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres.O órgão teria o objetivo de apurar a conformidade e legalidade do processo eleitoral. A versão também fazia a “Decretação do Estado de Defesa”. Segundo a Folha de S. Paulo, o então ministro da Defesa apresentou a minuta para “conhecimento e revisão” dos comandantes. Ao saber do teor, Baptista Júnior mostrou oposição ao documento. “O depoente (Baptista Júnior) entendeu que haveria uma ordem que impediria a posse do novo governo eleito; que, diante disso, o depoente disse ao ministro da Defesa que não admitiria sequer receber esse documento; que a Força Aérea não admitiria tal hipótese (golpe de Estado)”, diz trecho da transcrição do depoimento.
Braga Netto e ataques
Freire Gomes também afirmou à Polícia Federal que se opôs “de forma contundente” à proposta. Mas que o almirante Almir Garnier nada teria expressado. Garnier e os generais Paulo Sérgio e Braga Netto não têm se pronunciado a respeito das investigações. Em depoimentos à PF em fevereiro, os três ficaram em silêncio.Depois da reunião no Ministério da Defesa, Baptista Júnior disse à PF que passou a ser alvo de ataques nas redes sociais, sendo rotulado de “traidor da pátria” e “melancia”, uma alusão de que seria “um comunista disfarçado”. A versão do comandante sobre os ataques sofridos é corroborada pelo relatório da Polícia Federal que embasou a Operação Tempus Veritatis.Diálogos obtidos pela PF também mostram que Braga Netto chegou a chamar Freire Gomes de “cagão” em contato com o ex-major Ailton Barros. “Meu Amigo, infelizmente tenho que dizer que a culpa pelo que está acontecendo e acontecerá é do Gen Freire Gomes. Omissão e indecisão não cabem a um combatente”, escreveu o ex-candidato a vice em uma das mensagens.“Senta o pau no Batista Junior. Povo sofrendo, arbitrariedades sendo feitas e ele fechado nas mordomias. Negociando favores. Traidor da patria (sic). Dai pra frente. Inferniza a vida dele e da família”, escreveu às 18h55 do dia seguinte. “Elogia o Garnier e fode o BJ”, completou o general, como uma ordem.
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ABrFonte: Rede Brasil Atual