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27 de junho 2022

Comissão Arns: "Atriz é vítima do estupro e de uma brutal intromissão em sua vida"

A socióloga Maria Victoria Benevides, fundadora da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns, condenou e cobrou punição, nesta segunda-feira (27), dos responsáveis que tornaram pública a história da atriz Klara Castanho, de 21 anos, que foi vítima de estupro, engravidou e decidiu entregar a criança para adoção, seguindo todos os trâmites legais. O caso, no entanto, foi indevidamente exposto em sites e redes de fofoca que promoveram também especulações e ataques à atriz. Com a repercussão do caso, Klara foi obrigada a se manifestar publicamente em carta aberta, publicada em suas redes, no sábado (25). Em um duro desabafo, ela contou ter sido vítima de violência sexual e que descobriu a gravidez apenas pouco antes de a criança nascer. Klara também afirmou ter optado pela doação por entender que esse seria um “ato supremo de cuidado” e por não ter condições de seguir adiante com o bebê. “Esse é o relato mais difícil da minha vida. Pensei que levaria essa dor e esse peso somente comigo. Sempre mantive a minha vida afetiva privada, assim, expô-la dessa maneira é algo que me apavora e remexe dores profundas e recentes. No entanto, não posso me silenciar ao ver pessoas conspirando e criando versões sobre uma violência repulsiva e de um trauma que sofri”, declarou. 

Os responsáveisDe acordo com a socióloga da Comissão Arns, a divulgação do caso foi “criminosa” e cabe responsabilização. Pela legislação, a entrega para adoção é processo sigiloso que garante proteção tanto à gestante quanto à criança. “A atriz é claramente uma vítima que, por cima do abuso do estupro e do sofrimento de carregar uma gravidez sabendo ser fruto da violência, ela ainda passou por uma brutal intromissão, que é criminosa, em sua vida, no que existe de mais profundo na intimidade de uma mulher. Realmente esse é um fato que não se pode repetir. É muito importante que tenha tido repercussão para deixar isso claro”, observou Maria Victoria em entrevista à jornalista Marilu Cabañas, do Jornal Brasil Atual. Segundo reportagem do programa Fantástico, da TV Globo, a artista teve algumas de suas informações sobre o caso divulgadas inicialmente em um post do jornalista Matheus Baldi, no dia 24 de maio. Baldi é também integrante do programa “Fofocalizando”, do SBT. Na ocasião, a pedido da própria Klara, a postagem foi apagada, mas desde então a notícia se espalhou. No último dia 16, durante participação no programa de Danilo Gentili, na mesma emissora, o colunista Léo Dias também mencionou o caso, sem citar o nome da atriz, mas criminalizando a vítima. “O carma vai ser grande”, chegou a dizer sobre a história que chamou de “maldade”. 

Outras violaçõesUma semana depois, a apresentadora bolsonarista Antônia Fontenelle incitou ainda mais uma onda de julgamento contra Klara ao divulgar, em live, que uma atriz teria engravidado e entregue o bebê para adoção. Fontenelle não citou o nome da artista, mas usou de tom agressivo para expor o caso. Após essa exposição, Klara divulgou a carta aberta. No relato, ela denunciou não ter sido violentada apenas pelo o homem que a estuprou, mas também pelo julgamento das pessoas. Mesmo após a confirmação da atriz, Léo Dias publicou um texto no site Metrópoles, detalhando o caso. O colunista ainda tornou público o sexo do bebê, a data de nascimento e o hospital onde a criança nasceu. A publicação, conforme mostrou o Brasil de Fato violou diferentes barreiras que protegem a privacidade dos envolvidos no processo legal de adoção. Somente após a repercussão negativa, Léo Dias tirou o link do ar e pediu “desculpas” a Klara. Por meio de sua diretora-executiva, Lilian Tahan, o portal de notícias também se retratou. “Expusemos de forma inaceitável os dados de uma mulher vítima de violência brutal. A matéria foi retirada do ar”, disse a jornalista.De acordo com juristas, a entrega voluntária do bebê para adoção está prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) tanto para casos de gravidez em decorrência de estupro ou não. 

Vazamento ilegalAlém da violência sexual e da exposição indevida, Klara também denunciou ter sido vítima de coação por parte do médico após ter descoberto a gestação no momento em que ela realizava uma tomografia. A atriz conta que o médico “não teve nenhuma empatia” por ela, mesmo após relatar que a gravidez era consequência de um estupro. “Esse profissional me obrigou a ouvir o coração da criança, disse que 50% do DNA eram meus e que seria obrigada a amá-lo”, descreveu. Além disso, no dia em que a criança nasceu, a artista, ainda sob anestesia, foi abordada por uma enfermeira que estava na sala de cirurgia que a chantageou. “Ela fez perguntas e me ameaçou: ‘imagina se tal colunista descobre essa história'”. Nesse domingo (26), o Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP) informou que irá apurar a denúncia feita pela atriz e manifestou solidariedade a ela. De acordo com o órgão, se confirmada as ameaças, a enfermeira pode responder por infração ética. Não há informações quanto a uma investigação sobre a conduta do médico. 

Fonte: Rede Brasil Atual / Imagem: Reprodução/Revista Fórum