Notícia SINASEFE IFSul

9 de junho 2021

A cada minuto, 8 mulheres foram agredidas no Brasil em 2020, aponta pesquisa

Pesquisa do Instituto Datafolha, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revela que ao menos 17 milhões de mulheres brasileiras, cerca de 24,4%, afirmam ter sofrido algum tipo de violência e agressão no último ano no país durante a pandemia de covid-19. O percentual de mulheres agredidas em 2020 indica que uma, a cada quatro acima de 16 anos, foi atacada fisicamente, psicologicamente ou sexualmente no primeiro ano da crise sanitária. Divulgado nesta segunda-feira (7), o relatório Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil indica estabilidade em comparação aos dados da violência de gênero de 2019. Na edição anterior, 27,4% responderam ter sofrido algum tipo de agressão, dentro da margem de erro de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. Mas, em 2020, no entanto, as mulheres sofreram mais violência dentro da própria casa, um salto de 42,2% para 48,8%. Os autores dos crimes também passaram a ser com maior frequência pessoas conhecidas das vítimas. O que, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revela que a pandemia tornou o enfrentamento da violência de gênero ainda mais difícil. “Mulheres convivendo mais tempo com seus agressores, perda de renda familiar, aumento das tensões em casa, maior isolamento da mulher e consequente distanciamento de uma potencial rede de proteção”, analisa a organização. 
Vítimas a cada minutoO levantamento também descreve que ofensas verbais foram o tipo de violência mais frequente apontado por cerca de 13 milhões de mulheres. Outras 5,9 milhões relataram ter sofrido ameaças de violência física. E até 4,3 milhões de mulheres chegaram a ser agredidas fisicamente com tapas, socos ou chutes. O dado indica que a cada minuto, oito mulheres apanharam no Brasil no último ano. Cerca de 3,7 milhões de brasileiras também foram vítimas de violência sexual ou tentativas forçadas de manter relações sexuais. Apesar das medidas de confinamento se mostrarem como um motor da violência de gênero, a ativista da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) Sonia Coelho, integrante da Sempreviva Organização Feminista (SOF), pondera que a emergência sanitária não é a causa. “Infelizmente o aumento da violência não é novidade na nossa sociedade, inclusive é anterior à pandemia e já vinha aumentando”. Há três anos o Fórum vem levantando um crescimento nos indicadores da violência contra as mulheres.  “Esse aumento tem a ver com toda essa precariedade de vida que as pessoas estão passando. Sabemos que a violência contra a mulher perpassa as relações de poder entre homens e mulheres. Então, em uma sociedade em que os homens são vistos como provedores – embora mais de um terço das mulheres sejam responsáveis sozinhas pela casa –, à medida que os homens ficam desempregados, isolados em casa, todos esses elementos contribuem para aumentar a violência. (A pandemia) não é a causa porque a causa da violência é a desigualdade entre homens e mulheres, brancos e negros com o racismo”, explica a ativista. 
O que mudarO levantamento também confirma que a precarização das condições de vida no último ano está relacionada à violência de gênero. Até 61,8% das vítimas afirmaram que a renda familiar diminuiu no período, ante 50% das mulheres que não sofreram violência. Entre as brasileiras que foram agredidas, 46,7% também confirmaram que perderam o emprego, acima da média de 29,5% das que não foram vítimas. O percentual de mulheres negras agredidas (25,4%) também é maior do que o de mulheres brancas (23,4%). A pandemia e as medidas de restrição da circulação, contudo, não reduziram os casos de assédio sexual. Ao contrário, 37,9% das mulheres relataram ter sofrido algum tipo de comentário desrespeitoso enquanto andavam nas ruas, ou no transporte público e até no ambiente de trabalho. Em 2019, 37,1% descreveram essa forma de violência. 
À Rádio Brasil Atual, a advogada Tânia Mandarino, integrante do Coletivo Advogadas e Advogados pela Democracia, conclui que os dados da violência de gênero são alarmantes e demandam políticas públicas. “Nossa situação é de fato muito grave. Todos os sistemas de Justiça, começando pelas delegacias e as políticas públicas que foram desmontadas, o controle popular, precisam voltar a atuar para ter eficácia o que está na Lei Maria da Penha. Porque a lei é linda, mas quando chega na prática a gente tem muita dificuldade de trazer essa proteção para as mulheres. Sobretudo pensar novas formas de políticas públicas para as mulheres negras, sejam elas jovens ou não. A situação é realmente muito preocupante e a ideia é mesmo de um genocídio”, contesta. Outro levantamento do jornal Folha de S. Paulo identificou ainda que 1.338 mulheres foram assassinadas por sua condição de gênero. Os dados foram apurados junto às secretarias de Segurança Pública de todos os estados e do Distrito Federal.
Fonte: Rede Brasil Atual