Notícia SINASEFE IFSul

22 de maio 2020

MST capta R$ 1 milhão em financiamento "revolucionário"

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) anunciou a captação de R$ 1 milhão para investir numa indústria de beneficiamento de produtos agrícolas. Os recursos são oriundos do Financiamento Popular (Finapop), fundo criado pelo engenheiro e consultor Eduardo Moreira, que promete revolucionar a forma de investir, beneficiando projetos com potencial de mudar a cara do Brasil.Com taxas de taxas de 5,5% ao ano, menores do que aquelas cobradas por bancos públicos e privados, o dinheiro vai servir para a conclusão da construção de uma indústria para a Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan), do MST, no Rio Grande do Sul.
Coopan  A Coopan possui criação própria e abatedouro para venda de carcaça suína. Também produz leite e arroz orgânico, que é um dos mais vendidos do país.A iniciativa, segundo Moreira, serve para mostrar que o MST “não é esse bicho de sete cabeças”. Ele diz que o movimento conta com uma organização tão eficiente quanto as grandes empresas brasileiras, como a Vale e a Petrobras, o que justifica o baixo risco do investimento.A diferença, diz ele, é que nos fundos tradicionais, o investidor não sabe exatamente para onde vai o seu dinheiro. No Finapop, os investimentos são transparentes, e a pessoa pode escolher qual projeto pretende beneficiar. A inspiração veio do banco holandês Triodos, que tem uma cartela de investimentos sustentáveis e que privilegiam a economia local.
“Seu dinheiro, que está no Itaú ou no Unibanco pode estar financiando uma fábrica de armas, uma empresa de agrotóxicos. Ou uma multinacional que vem ao Brasil para competir e destruir as empresas locais. Muitas vezes você pode estar financiando aquilo que te destrói”, afirmou a Marilu Cabañas, para o Jornal Brasil Atual, nesta sexta-feira (22).“No MST, você sabe, 70% da comida na nossa mesa vem da agricultura familiar. A comida orgânica vem quase toda de assentamentos e pequenos agricultores”, afirmou ele.
“Chuva de esperança”Segundo Moreira, o lançamento da Finapop representa “uma chuva de esperança” em meio às desgraças decorrentes da pandemia de coronavírus. “Recebemos mais de mil mensagens de pessoas que querem investir juntas, porque não querem mais deixar o dinheiro no Itaú, no Bradesco, do Santander, sem saber a quem estão financiando. Recebemos uma chuva de mensagens de pessoas que querem oferecer serviços gratuitamente, que querem doar terra para o MST.”Ele destacou que a atual crise exige diferenciar o que é necessidade do que é desejo. O governo, em vez de privilegiar o pequeno agricultor, dando andamento à reforma agrária, prefere atender aos interesses de grileiros e latifundiários, que são exportadores de commodities.“É nesse momento que a gente tem que falar ‘não’. E focar e premiar quem a gente mais precisa. Precisa de comida na nossa mesa, então vamos premiar que faz isso. Vamos dar mais terras, mais oportunidades. E quando entregarem a comida, vamos premiar mais ainda, para que mais pessoas queiram ir trabalhar lá. Qual mundo que a gente quer? A gente tem que se fazer essa pergunta.”
Capitalismo e injustiçaSegundo Moreira, que é ex-banqueiro, o capitalismo é “injusto”, pois vive da exploração daqueles de quem o próprio sistema mais precisa, os trabalhadores. Ele cita o exemplo das empresas que controlam aplicativos de entrega como Rappi, Ifood e Uber Eats. Em meio à pandemia, registraram aumento de 30% em suas receitas, em função do aumento da demanda dos pedidos por comida principalmente.“Os entregadores de aplicativos estão mantendo as pessoas vivas dentro de casa. As empresas estão ganhando muito mais, só por causa deles. A empresa, em si, não vale nada. É um programa igual a um joguinho. Mesmo ganhando 30% a mais, diminuíram o salário dessas pessoas, porque sabem que tem mais gente desesperada querendo trabalhar. Esse é o capitalismo.”
MeritocraciaO economista diz que aprendeu o verdadeiro significado da palavra “meritocracia“, conceito alardeado pelas empresas capitalistas, quando visitou um acampamento do MST pela primeira vez. Nos assentamentos e acampamentos, cada agricultor recebe um lote de terra equivalente, e os insumos são comprados coletivamente.“Alguns agricultores têm resultados melhores do que outros, porque tiveram mais méritos. Agora querem dizer que é mérito uma pessoa que nasce numa comunidade carente – sem educação de qualidade, que não tem acesso a uma nutrição saudável, com todo mundo morando dentro de uma pequena casa, sem lugar para estudar – ter que competir com o outro que viaja a Nova York para visitar o Museu de História Natural, tem tablet e computador, faz curso de inglês… Isso é meritocracia?”, questionou.
Fonte: Rede Brasil Atual