Notícia SINASEFE IFSul

5 de julho 2019

“Casas” do River Plate e do Inter abrigam sem-teto do frio em Buenos Aires e Porto Alegre

A chegada de uma onda de frio intenso no sul do continente motivou dois clubes de futebol a fazer uma ação de solidariedade e abrir seus estádios para abrigar pessoas em situação de rua. Primeiro foi o River Plate, da Argentina. Nesta quarta-feira (3), quando a previsão do tempo indicou que os termômetros baixariam aos 5°C em Buenos Aires, o River anunciou sua ideia nas redes sociais: a proposta foi transformar o Monumental del Nuñez em um centro de doações de agasalhos e cobertores e, partir das 18h, abrir as portas do estádio para quem quisesse se acomodar em seu interior, em busca de um local mais protegido e quente.O clube também aproveitou para oferecer visitas noturnas ao seu museu. A ação dos “millonarios”, como é chamado o River Plate, foi realizada em parceria com a ONG Red Solidaria, que atua em diferentes áreas beneficentes, não apenas na capital argentina. Segundo o River, 242 pessoas passaram pelo local e 103 dormiram.Dois dias depois, a massa de ar polar que passou por Buenos Aires deve alcançar Porto Alegre nesta sexta-feira (5). Inspirado pelo clube argentino, o Internacional e a prefeitura da capital gaúcha também anunciaram uma ação solidária para ajudar as pessoas em situação de rua. O clube abrirá o Gigantinho, ginásio poliesportivo localizado ao lado do estádio Beira-Rio, para abrigar quem quiser se proteger do frio. A capacidade será para 300 pessoas, pouco menos que o acolhimento oferecido hoje na cidade, que dispõe de 355 vagas. No local, haverá coleta de donativos, especialmente colchões e cobertores. As torcidas organizadas do time também oferecerão um sopão nesta que deve ser a noite mais fria do ano em Porto Alegre, com termômetros em torno de 4°C. A prefeitura também oferecerá colchonetes.“O Clube do Povo tem espírito solidário, essa é nossa essência. O clube, desde sua origem, está de portas abertas a todos, sempre olhando pelas minorias e os mais necessitados”, declarou Marcelo Medeiros, presidente do Internacional.

DescasoO governo de Buenos Aires divulgou nesta semana o censo da população em situação de rua na capital argentina. Segundo dados oficiais, 1.146 pessoas dormem nas ruas de Buenos Aires. A estatística, no entanto, é questionada por organizações sociais que atuam com essa população e que calculam que o número real fique em torno de 7 mil pessoas. Ainda assim, os dados indicam um aumento da população em situação de rua pelo terceiro ano consecutivo.“O número (oficial) é absolutamente irrisório. Ainda que o censo popular esteja sendo finalizado no Ministério Público, qualquer pessoa que caminha pelas ruas vê que triplicou a quantidade de pessoas”, afirma Jorgelina Di Iorio, integrante da Assembleia Popular Plaza Dorrego de San Telmo. “Como eles têm que reconhecer um aumento, falam de mais 55 pessoas. Um número que não fecha nem se tomar os dados oficiais de leitos que há disponíveis nos albergues.  São 2 mil camas, e que deixam de fora muita gente. Sabemos que houve um aumento exponencial, que ficou ainda mais exposto com o pedido de uma ONG para o River Plate abrir seu estádio como albergue. Mas diante de um problema em que o Estado é responsável com sua política de miséria, tem que exigir respostas de acordo com o nível do problema, para além de apelar à solidariedade. Políticas reais, não soluções passageiras, porque na noite mais fria, o River abriu suas portas, mas amanhã essas pessoas vão continuar nas ruas”, critica Jorgelina Di Iorio.A divulgação do censo oficial coincidiu com a mesma semana em que Sergio Zacarias, de 57 anos, foi encontrado morto na rua, a poucas quadras de distância da Casa Rosada, a sede do governo federal, sob comando do presidente Mauricio Macri. A região é uma das mais ricas da Argentina.“Entendemos a solidariedade, mas é uma vergonha porque não estamos falando de uma catástrofe, e sim de uma população estável o ano todo. E não pode ser que tenha que esperar a morte de uma pessoa para dar apoio, e nem mesmo é o Estado que ajuda”, afirma Horacio Avila, integrante da Proyecto 7, uma das organizações responsáveis pelo censo popular das pessoas em situação de rua.Diante das críticas, o vice-governador da província de Buenos Aires, Diego Santilli, optou por responsabilizar a própria vítima por sua morte ao dizer que “há pessoas que preferem dormir na rua em vez de ir para um albergue”. “Há pessoas com problemas mentais, de drogas. Há quem venha de outras cidades. São muitas as variáveis, os albergues estão em ótimas condições, mas as vezes uma pessoa com problema psiquiátrico não quer ir, prefere dormir na rua com 3 graus”, afirmou Santilli.A qualidade dos albergues alegadas pelo vice-governador da província de Buenos Aires é contestada por Horacio Avila. Para ele, os locais seguem um modelo carcerário e discriminador, que dificulta o acesso dos interessados e exige o preenchimento de longos formulários.
Fonte: Rede Brasil Atual

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